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sábado, 3 de novembro de 2007

Nada e tudo

O pouco explica o tudo
O tudo explica o oco
o oco explica o nada
e o nada permanece incógnito.

A luz é para todos
O brilho para poucos
Viver só se for de susto
Contra a morte tento e luto.

O sábio tudo tenta
Por medo da ignorância
Corre do diabo e da cruz
Pensa que tudo é ciência.

O ignorante sabe muito
Do tanto que desconhece
A prece é de quem cresce
Como quem ouve e esquece.

A maledicência é do povo
Que tudo fala, tudo ouve
Crê na inocência e na verdade
Inveja os poderosos, gosta da caridade.

Então, a noite esconde os loucos
O dia os mostra certos
Nada parece o que é,
E o que é nada parece.

Guriri 02/11/2007

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A noite passou sem mim

A noite chegou, comprida,
como os compridos dias,
surgida acima das linhas de perfeição
da vida,
e, lentamente,
escurecia as mentes, em metamorfoses.

Se não fosse outra noite tão bela,
talvez não seria a calma do homem,
na calçada.
O cão latindo, latindo, e as cores
girando pela noite.

Se não houvesse outra noite assim,
guardada,
assim perdida entre seres flutuantes,
sem pressa, sem hora, sem ganância
de esperar o dia amanhecer.

A noite silenciou a voz do rádio,
à hora da reza, ave-maria das noites,
sem lua, sem alma, sem bala e com perdão
pelo dia quente.

Seu manto obscuro, boiou à beira do sol de bálsamo.
O homen continuou, mãos no bolso,
na calçada.

O velho e novo se despediram no mesmo momento
das coisas sempre-vivas do bárbaro ofício.

Os ruídos aquietaram-se,
para todos prestarem atenção,
para correrem pelas noites,
dançarem todas as noites,
dormirem todas as noites.

Se a noite fosse assim igual,
passaria assim sem mim,
como sempre passei assim sem ela,
por todas as noites,
por todas as mortes,
todos os fortes.

Assim, na noite.

Pingente

Saio do vento frio que gela,
entro no meu quarto,
e encerrado fico
numa amplidão sem par,
de profundo caos.

Que penda eu de um lado a outro,
persistindo no erro,
a consertá-lo mal.

À escuridão que me tem,
preciso lutar,
à luz, que me falta,
buscá-la.

Balanço no fiel da minha alma.
Ser o que faço ou ser o que devo fazer?

Não sei,
busco apenas perdida,
a vida....a vida.

Pinga de mim este ser,
mais àquilo que sinto,
a dor....a dor.

Cachorros, canalhas, vermes!
E eu, que sou?

Pior, pior...
sou nada.

Primeira Paz Mundial

Atenção! Preparem-se todos, enfim!
As notícias aqui chegam,
e trazem más novas para muitos!

Pois o que ninguém esperava, aconteceu,
explodiu a Primeira Paz Mundial!

Países dos mundo todo, se defrontam,
uns começaram primeiro,
outros aproveitaram a confusão.

Cada um dispara do seu lado,
mandando bombas,
bombas de flores,
flores de todas as cores.

Rosas, orquídeas e jasmins,
cravos, lírios e margaridas,
flores em todos os lugares,
ruas, acampamentos e bares.

A cada flor jogada
milhares de pessoas nascem.

A cada bomba disparada,
o mundo enche-se de amor.

No exército, marinha e aeronáutica,
patriotas se alistam,
todos querem estar lá.

Prontos a darem tudo de si,
pela Primeira Paz Mundial.

Prontos a dispararem rifles,
com tiros de paz, amor e
fraternidade.

Vão aos campos e montanhas,
em busca de todo tipo de flores,
flores que encham de felicidade,
o mundo e a humanidade.

Os países desenvolvidos usam
de todas as maneiras,
para ajudar os menos desenvolvidos.

Tudo se cobriu de amor e alegria,
utilizam-se de todas as magias.

Os que são contra escondem-se,
estão apavorados,
não sabem o que fazer,
pois viviam na mais completa guerra.

Escute o que dizem!
A Primeira Paz Mundial não se acaba!

Vai durar anos, décadas, séculos,
vai durar a eternidade!

Viva! Viva a Primeira Paz Mundial!

SP 07/01/82

terça-feira, 31 de julho de 2007

Tudo tão

O tão pouco que me corrói
é o muito que o satisfaz
e muito mais alegre fica
com minha desdita.

A minha queda deixa-o tonto,
mas satisfeito.
Meu medo deixa-o estupefato,
mas, sensato, não mostra, gosta
e antegoza no íntimo.

O mínimo que sei deixa-me feliz,
como uma atriz que ao palco sobe,
frases decoradas,
e a personagem se abre, inteiro.

Nada vi que não gostei,
que não soubesse o gosto,
que desse desgosto primeiro.

Se não sei por onde ando, desando,
olho para os lados, esguio,
tímido de olhares furtivos, vivos.

Agora já não penso, existo,
misto de querer e não poder,
de saber e não conhecer.

Então, olhas para mim, feliz,
e diz:
conte comigo! (meu inimigo)

Noite e dia

Todo o dia o sol nasce, o sol se põe, a noite vem.
A noite se vai, o sol nasce e o sol se põe.
O sol se põe, a noite vem, o dia nasce.

quando vou ao trabalho,

o sol nasce, o sol se põe e a noite vem,

quando chego em casa,

a noite se vai, o sol nasce e o sol se põe,

quando vou dormir,

o sol se põe, a noite vem, o dia nasce.

Hoje tinha uma linda lua no céu!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Poema

poema!
põe a mão no pó,
amassa a massa

manuseia o seio,
faz mau uso do fuso,
suo o desuso

o cônico mecânico,
mescla o mico
atômico, cômico

o ódio à prosódia,
a paródia em ode,
no pódio

gira a manivela,
revela a nívea vela,
nivela

toca o totem,
posto no teto,
ao lado do pote

o que pode, pode,
não foge da lida
dali do meu lado

o dado deu dez,
doeu no dedo,
o medo mordeu

Guriri, 20/07/2007

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Espelho, espelho meu?

talvez não seja eu
na imagem do espelho
o que vejo já não sinto
não sei os temores que me aguardam

sinto-me um guerrilheiro
lutando em vão alguma causa perdida
de uma guerra há muito acabada

não me algemaram
nem me deram pancadas
não me torturaram
em porões imundos, obscuros

escondidos em lugares conhecidos
mas sabidos por pouquíssimos

olho novamente e a imagem some
distorce no espelho
se não sou eu, quem será?

onde estará o homem, a pessoa,
a alma?
quis estar assim, perdido?

a imagem aos poucos volta
clara, concisa, precisa
sim, sou eu! não outro

uma cópia, clone ou gêmeo,
eu mesmo, só!

com as mãos em concha,
cheias d'água, lavo o rosto
a água fria aos poucos me deixa pronto,
desperto

se sou eu no espelho
não sei quem sou
se sou outro
sumiu minha história

se só minha imagem,
então
sumiu o homem,
a pessoa, a alma

ficou só
o vazio

Guriri 13/07/2007

terça-feira, 10 de julho de 2007

Canto e choro

Vejo que a canção
não te perdeu
Mas que os teus olhos se abriram
e o teu rosto já sorri

E que você brinca e pula
e canta, chora e dança

O choro chorado
que eu faço e tenho
na minha canção

E o beijo apertado
perto do sinal fechado
explodiu no coração

No coração de quem canta
No coraçao de quem chora
No coração de quem dança

No coração cantado
do canto que eu faço e canto
do choro que eu choro e choro

E morrendo se morre agora
embora não esteja na hora

de cantar minha canção.

SP 15/03/82

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Horas curtas

onde a esquina termina
lá onde o tempo se esconde
o vento é uma brisa

a praia estende-se deserta
as ondas se movem caladas
o sol brilha na testa

a rua dorme esquecida
as luzes escuras e mortas
a terra se abre ferida

e eu no momento estou só
bebendo vinho com pão
melancia e guaraná em pó

Fim de Tarde

Muito tempo já se foi
que as manhãs nasceram
e o sol brilhou sobre as cabeças
sobre o pensamento e a solidão

E a noite vem chegando
e a lua enfeitando
com amores e paixões

Quantas luzes já não vejo
porque se morre o desejo
não consigo mais viver

E o tempo passa
a chuva molha
e a terra toda chora

E lá na praia
vejo o triste entardecer

E a lua mansa
vai saindo
descobrindo
o azul do meu querer

O que se passa
não consigo entender

Se o tempo fôra
bom havia de agora ser

Bem agora
em qualquer hora
o tempo de querer

E nesta tarde
fim da sorte
ver o sol
triste morrer

SP 6/4/82