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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Fiz um Poema

Fiz um poema,
um poema cego.
Pois que ninguém o lê,
ninguém o vê.

As letras e palavras dançam,
dançam, dançam,
a minha frente.
"Um dia fui homem..."
"...o susurro da noite calou no meu peito."

Contudo, a mulher de óculos não viu,
a criança na escola
não ouviu a leitura,
o papel não recebeu
a tinta escarlate
ou preta.

Fiz um poema,
um poema louco.
Então fui chamado,
quiseram analisar-me,
torturaram-me com perguntas tolas,
óbvias.

As palavras e as letras jaziam lá,
jaziam e jaziam,
como mortos empalhados.
"O címbalo sonoro soou no sereno..."
"...deusa minha, lua cheia do meu amor..."

O cego chorou, a mulher deixou cair os óculos,
pensativa,
a criança riu, mais de si mesma, boca aberta
boquiaberta.
O homem da rua parou
diante da vitrine,
livros a mancheia.

Fiz um poema,
um poema cego louco,
louco cego.
Assim, contudo,
fiz um poema.

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